quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O ARMAZENAMENTO DE ENERGIA

O armazenamento de energia por meio de grandes reservatórios de acumulação foi a estratégia bem sucedida para ter “energia garantida”. Mas os reservatórios atuais vêm perdendo progressivamente a capacidade de contribuir para a autoregulação e a construção de novos encontra fortes restrições sócio-ambientais, de forma que, a mesma estratégia não pode mais ser repetida nas novas usinas. Garantir energia nos períodos secos se tornou mais fácil nos dias de hoje com termoelétricas a gás de menor custo de capital. A utilização de reserva de “energia garantida” por termoelétrica é uma solução mais ecológica e mais barata por mais incrível que possa parecer: é eficaz porque o combustível (gás ou combustível líquido) por elas utilizado já é um estoque de energia potencial, disponível a qualquer tempo, independente de condições climáticas.
O sistema elétrico brasileiro foi projetado no século passado, seguindo uma estratégia de sucesso que consistia no emprego de reservatórios de regularização plurianual aliado a usinas supermotorizadas, ambos de custo excepcionalmente baixo, graças ao relevo. No Norte acontece justamente o contrário e a mesma estratégia não pode ser repetida, devido tambem ao relevo: Os reservatórios são caros e ambientalmente incorretos, pela elevada relação superfície volume. O mesmo acontece com os equipamentos, turbina e gerador devido a baixa altura. Acresce ainda o fato de que as alturas precisarão ser reduzidas para não inundar mais do que as enchentes naturais, o que agrava ainda mais o custo dos equipamentos.Tanto no Norte como no Sudeste o país pode contar com enorme quantidade de energia de origem hidroelétrica para a produção de elementos estratégicos de grande valor econômico (Alumínio, estanho, hidrogênio, lítio), o que constitui um diferencial importante em relação aos países que precisam recorrer à energia mais dispendiosa de térmicas. O Brasil é um dos últimos detentores de potenciais hidráulicos e o que mais ganhou experiência na exploração de energia hidroelétrica na segunda metade do século passado.
A eletrólise é uma das formas mais freqüentes de uso da energia elétrica, que permite o seu armazenamento na forma dos produtos por ela produzidos, especialmente aquela de origem hidráulica. O Lítio, por exemplo, é o elemento essencial para fabricação de baterias leves, cuja tecnologia já é utilizada em celulares e notebooks. O hidrogênio pode ser utilizado em células de combustível. Ambos são obtidos por meio da eletrólise e servem como fontes para acionamento de veículos elétricos.
No momento, o Brasil deve concentrar pesquisas em tecnologia de aproveitamento total da cana de açúcar e da biomassa de florestas cultivadas para produção de combustível líquido, como alternativa da queima direta do bagaço em antigas termoelétricas a vapor, verdadeira “reminiscência arqueológica” do industrialismo. Estas devem ser substituídas por termoelétricas combinadas (Candiota, Piratininga, e usinas de cogeração existentes nas usinas de açúcar e álcool) e o bagaço teria aplicação mais eficiente em “calor de processo” como a indústria cerâmica e de vidro.
A segunda necessidade brasileira é garantir a produção de álcool para a para acionamento de carros e termoelétricas, alem da venda do combustível e experiência de fabricação para outros países. Para que tenha terra suficiente é preciso reduzir o rebanho de bovinos, tanto na Amazônia, quanto no cerrado. A redução do rebanho é possível, com a experiência brasileira de mais de 300 anos, que pode ser acelerada com a descrição recente do genoma do gado. Com isso, o Brasil pode se transformar em exportador de tecnologia de garrotes precoces (semem, reprodutores e matrizes).
A engorda extensiva de bois é o maior responsável pela degradação de pastagens que já atinge a região Amazônica. Alem do pequeno valor agregado, exportação de carne por bois criados extensivamente significa perda de patrimônio. A exportação de matéria prima é um forte concorrente pela utilização de recursos escassos ou ambientalmente incorretos. Ora, tanto o cultivo de grãos quanto cana é uma atividade mais correta e lucrativa do que as anteriores. Logo, a providência mais sensata seria limitar o rebanho, produzindo carne de bois confinados e evitar o transporte de matéria prima, exportando produtos acabados de maior valor agregado. Globalmente a exportação de matéria prima não beneficia ninguém, concorre apenas para o agravamento das condições ambientais e maior utilização de recursos escassos: minério, grãos e carne. Minério e grãos exigem combustível no transporte de mercadorias pesadas para países que vão utilizá-los de modo ineficiente. Já a carne, incentiva a criação extensiva de gado, maior vilão das queimadas e concorrente do boi confinado. Isto é o “óbvio ululante”.
Como a energia elétrica é o nosso fator mais favorável, deve ser usada para impedir tais exportações. Por exemplo: na Amazônia, para produzir eletro intensivo e no Sudeste, para acionamento de carros elétricos. O álcool tem grande potencial exportador, tanto o combustível como 40 anos de experiência tecnológica. Só nos Estados Unidos a necessidade de adição é seis vezes a produção brasileira. O Brasil tem condição de se tornar o maior fornecedor de gado confinado, ou seja, exportador do boi já alimentado com o grão de origem.
Indiretamente, os responsáveis pelas más condições ambientais são os importadores de carne e minérios brutos da Amazônia, impedindo que sejam processados aqui, de maneira mais eficiente. Se bens tecnológicos podem ter produção globalizada, o mesmo não acontece com bens primários, sem comprometer o meio ambiente. Portanto, limitar a exportação de carne e minério bruto da Amazônia, não apenas é um bom negócio, como é essencial para a sua preservação.

O NACIONALISMO DE VOLTA

As novas descobertas do Pré-sal vêm dando margem para o ressurgimento do velho nacionalismo que alimentou o imaginário do povo brasileiro na década de 50. Hoje vistas como “redenção da pobreza” vão servir muito mais como bandeira política, do que realmente geração de riqueza, diante da montanha de capital necessário à exploração.
“Coincidência ou não, no mesmo dia do lançamento do pré-sal, começava em Londres o, digamos, pós-sal – campanha chamada 10:10, porque visa reduzir em 10% a emissão de gases -- cujo último fim fatalmente será o de um mundo com muito menos consumo de petróleo e derivados, sabidamente os principais vilões nessa história, seguidos pelo desmatamento” (Clovis Rossi, folha do dia 2/9/2009). Não é para criticar o pré-sal, ao contrário: mesmo que o petróleo tenha uma sobrevida de algumas décadas, o Brasil é um dos raros países, senão o único, com a imperdível oportunidade de usar os recursos (grana) provenientes de um combustível ‘sujo’, para desenvolver e/ou consolidar as alternativas ‘limpas’ que possui (álcool e potenciais hidroelétricos). “Ou então, usar o recurso combustível ‘sujo’ (em espécie) para acionamento de termoelétricas a gás que liberam energia limpa” e barata de hidroelétricas — nossa maior riqueza potencial — para acionamento de carros elétricos ou a hidrogênio?
Se o preço do petróleo vai realmente subir, conforme esperam os técnicos da Petrobras, porque não esperar que isso aconteça primeiro, para depois explorar, deixando o petróleo bem guardado debaixo da terra e do mar? O quê, definitivamente, não é fácil de ser roubado. A “subutilização das reservas” ao longo do tempo é o equivalente em petróleo da subutilização (low profile) das hidroelétricas da Amazônia, ou seja, produção de gás, diesel e nafta na quantidade suficiente para atendimento do mercado interno. É o que parece mais sensato nestes tempos de petróleo barato, sem as complicadas manobras de “aumento de capital da Petrobras, emissão de títulos da dívida e pagamentos em barris fictícios do futuro, tal como o “negócio da China de 10 bilhões”, que nada têm a ver com a indústria do petróleo.
A tal “Doença holandesa” de que tanto falam atualmente já aconteceu muitas vezes na história do Brasil colonial — como expressa o recente discurso do senador Cristovam Buarque sobre os inúmeros ciclos da “borracha”, “cana de açúcar”, “mineração”, “café” — cujos benefícios reverteram apenas ao propósito de construção de edifícios suntuosos: teatro, igrejas, palacetes e edifícios, como expressão do poder dos senhores de engenho, barões da borracha e do café. A atual crise da economia globalizada guarda uma certa semelhança com a “maldição do petróleo” e pode ser atribuída à “febre consumista da era da modernidade”.

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