sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

ENERGIA COMO FINALIDADE ÚLTIMA

A exploração de petróleo bem como a geração de energia não é um fim em si mesmo. Depende da composição das atividades que usam energia, bem como das fontes disponíveis a essas atividades e da fase histórica que cada país atravessa. Só é justificada quando produz bens intermediários de maior valor agregado que empregam e produzem outros bens úteis. Nas atuais condições de mercado, o petróleo é uma comodity como outra qualquer, cujo preço não justifica o risco do capital empregado na exploração e o governo tem toda a razão em evitar a exportação de petróleo bruto, fixando limites regulatórios de exploração. Exportar petróleo ou mesmo etanol nestas condições é o mesmo que exportar matéria prima.
Por outro lado, queimar petróleo é um desperdício — ou forma predatória de utilização, como fonte de aquecimento, de um recurso valioso e insubstituível — quando podem ser encontrados combustíveis líquidos mais simples, derivados da cana e celulose, que substituem suas propriedades puramente energéticas. O substituto do petróleo deve ser buscado naquilo que constitui sua origem: se o petróleo é um estoque ancestral, o substituto se encontra nas florestas atuais e não em plantações de oleaginosas de baixo rendimento por hectare.
O petróleo é um produto sui-gêneris, de mais larga utilização em todo o mundo em razão do multiuso dos inúmeros produtos valiosos que resultam de sua destilação. Explorar petróleo como matéria prima de exportação constitui um procedimento pouco inteligente. O petróleo é uma comodity como outra qualquer, cujo preço atual é pouco superior ao da soja pronta para o consumo. Corresponde à metade do valor alcançado nos choques anteriores, se levada em conta a desvalorização do dólar (2.5% ao ano em 25 anos). Exportar petróleo bruto se tornou um mau negócio que nem mesmo interessa às grandes multinacionais: é como exportar comodities ou minérios, inclusive o etanol. O que realmente produz riqueza e desenvolvimento é a destilação do petróleo, uma das indústrias mais lucrativas do mundo, fonte de inúmeros conflitos e disputas políticas. Empresas multinacionais detêm atualmente apenas 3% das reservas mundiais e se interessam mais em aplicações financeiras como sócias de capital estatal do que em prospecção e exploração propriamente dita. Se o governo Americano decidisse interferir na exploração — sugestão de Sarah Palin ex-vicecandidata — como fez estatizando a General Motors, o preço do petróleo cairia a valores insignificantes.
“A BP inglesa descobriu há poucos dias uma enorme fronteira petrolífera no Golfo do México, a mais de deis mil metros de profundidade. Se por um lado, essa descoberta eleva a credibilidade do pré-sal, por outro joga um pouco de água fria na fervura patrocinada pelo Planalto. Não estamos sozinhos, e a tão decantada escassez futura de petróleo pode ser mais uma dessas previsões que não se confirmaram.” (L. C. Mendonça de Barros, folha do dia 4/9/2009). Não é só a escassez improvável, mas o custo da exploração que está em jogo devido à concorrência internacional pelos equipamentos. Pode muito bem acontecer que a exploração se torne inviável, o que reforça a tese da subutilização (low profile): os mais viáveis e menos danosos em primeiro lugar, tirando menos, e não mais, os recursos da natureza, da mesma forma que serão explorados os potenciais hidroelétricos da Amazônia.
Protelar exploração de petróleo é a forma mais inteligente de estocagem, visando utilização futura, quando novas tecnologias estiverem disponíveis. Exploração restrita ao mercado interno de diesel e suficiente para complementação térmica a gás.
Por último, o fator mais importante é a redução no consumo de energia dos países industrializados, por conta de mudanças estruturais ocorridas desde a década de 70, ou seja, decréscimo no consumo de energia por habitante com crescimento do PIB, tendência que prossegue até os dias de hoje. Isso mostra que para crescer não é imprescindível o aumento no consumo de energia per cápita como mostra o desempenho de países industrializados: Estados Unidos, Japão e Europa (ver figura 1). O ingresso na economia de alta tecnologia trouxe vantagem expressiva aos países industrializados e do Leste Asiático o que ocasionou a explosão do consumo de bens finais e redução no gasto de combustíveis. A fabricação de Produtos tecnológicos — de pouco conteúdo material e de alto valor agregado — não consome energia. São transportados de avião, alguns intangíveis como softwares, viajam a velocidade da luz, de e para diversos lugares do mundo, graças aos próprios recursos da tecnologia da informação. Têm marketing garantido pelo próprio meio (INTERNET) e goza de prestígio mundial pelo fascínio que desperta como a indústria que mais prospera no mundo.
A globalização — que privilegia a produção e transporte de produtos tecnológicos desmaterializados — alterou a distribuição geográfica das cidades, diminuindo a importância do transporte nestes países. Até no automóvel que parecia um grande consumidor, o consumo de combustíveis não cresce por falta de usuários e o mercado está saturado com mais de um carro por habitante (2,5 nos Estados Unidos). Milhões de carros são fabricados todos os anos para permanecer, a maior parte do tempo, parados no trânsito, nos estacionamentos ou em garagens, como objeto ornamental, por absoluta falta de usuários ou mesmo por impossibilidade física de uso simultâneo como acontece nos países industrializados (2 carros por habitante). Alem da necessidade de locomoção ser naturalmente reduzida numa economia de serviços, acresce o fato de estar acontecendo, de forma silenciosa e espontânea, mudanças de hábito para carros mais econômicos. O transporte pesado tambem perde importância numa economia baseada em serviços, cuja distribuição de mercadorias pode contar com a eficiente estrutura herdada do industrialismo.
O carro não é, tipicamente, um meio de transporte. Como meio de locomoção individual a eficiência do motor deixa muito a desejar. O mercado de maior crescimento se encontra nos países em desenvolvimento, especialmente em cidades menores que não dispõem de meios de transporte coletivos. Nas grandes cidades o trânsito está de tal modo congestionado que os carros ficarão impossibilitados de circular e gastar combustível, por falta de vias. Só agora o culto do automóvel está chegando a classe de baixa renda nos países em desenvolvimento que agora se sentem no direito de participar tambem da sociedade de consumo. Nas pequenas cidades o fenômeno é mais visível.

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