terça-feira, 17 de agosto de 2010

SUGESTÃO PARA MOMENTOS DE CRISE

Em lugar de facilitar o crédito para as empresas vencedoras da licitação das hidroelétricas do Rio Madeira o melhor é deixar que elas próprias desistam em razão da impossibilidade de cumprir contratos celebrados antes da crise. Para que o setor sucroalcooleiro não seja penalizado com a queda no preço do petróleo -- o que certamente ocorrerá -- um bom programa de ajuda seria facilitar o crédito para recuperação de todas as termoelétricas a vapor já conectadas ao sistema interligado.
Talvez seja necessária a colaboração de ilustres geógrafos brasileiros para explicar aos dirigentes da ANEL que as agressões ao meio ambiente e a economicidade das usinas hidroelétricas dependem apenas de um único parâmetro, a altura dos reservatórios, 27 metros no caso de Jirau, dos quais resultam rotações baixas, visivelmente lentíssimas e agressivas. Outro fato que os físicos poderiam explicar aos políticos ufanistas está relacionado com as pretensas reservas de hidroeletricidade inexploradas da Amazônia que é apenas um mito. Não é a quantidade, 70% de reservas, que importa, mas a qualidade, ou seja, a relação custo por unidade de potência produzida, inclusive ambiental, uma propriedade do campo gravitacional conservativo (depende da raiz quarta da altura ao cubo). É evidente, do ponto de vista do campo gravitacional, que as grandes vazões e baixas alturas ocorrem nas regiões de planície, o que afeta sensivelmente a relação custo por unidade de potência e, portanto a eficácia da transformação em termos de custo do quilowathora produzido. As 44 unidades da usina de Jirau apenas multiplicam a quantidade de unidades ineficazes do ponto de vista dos custos. Os grandes reservatórios das usinas do Rio Madeira não têm qualquer utilidade prática senão a de inundar extensas áreas de florestas, que, como patrimônio ambiental, valem muito mais do que a energia gerada, se feitas as contas corretamente. Os reservatórios nem servem para o fim de regulação de vazão, uma vez que inexistirão usinas de jusante, beneficiárias da regulação. Os potenciais hidroelétricos estão se esgotando no Brasil e no mundo todo. Não compensa estender para a região amazônica o sistema interligado para cobrir apenas umas poucas usinas. O sistema interligado e suas hidroelétricas remanescentes constituem resquícios do industrialismo que estamos em vias de abandonar, seguindo o exemplo dos países industrializados.
Se as condições do crédito continuarem se agravando, a elevação do juro acabará inviabilizando os projetos do Rio Madeira, cujo valor será próximo dos 20 bilhões de dólares, o que, certamente levará à desistência voluntária por parte dos consórcios vencedores. A “janela hidrológica” será um bom pretexto para a negociação da desistência, diante da exigüidade de tempo para a cassação da liminar ambiental e da proximidade das chuvas na região. Aliás, é bom que isso aconteça porque as partes envolvidas disporão de tempo suficiente para avaliar os rumos da crise mundial, cujas consequências poderão ser graves e irreversíveis. Ao fazer o novo leilão a ANEEL acabará constatando as enormes vantagens da termoelétrica a gás e, possivelmente da termoelétrica a álcool, menos agressiva. Com isso poderá voltar os olhos para as hidroelétricas de maior qualidade na cabeceira dos rios da Bacia Amazônica, próximos das divisas dos países vizinhos, com os quais o Brasil tem interesse em fazer consórcio de cooperação. Os países vizinhos são os que têm as reservas de melhor qualidade econômica e ambiental de potenciais inexplorados, encontrados na margem esquerda do Rio Amazonas e vertentes da Cordilheira dos Andes. Com altura de queda acima dos cem metros, possibilitam rotações menores que dez Hertz, semelhantes as da usina de Três Gargantas na China. Para o desenvolvimento sustentável dos habitantes da região, pequenas centrais hidroelétricas e termoelétricas descentralizadas na periferia da Amazônia não implicam em grandes reservatórios nem linhas de transmissão. Constituem soluções melhores do que usinas volumosas de grande impacto ambiental e econômico que já nos custaram tanto incômodo no passado.
Se o nível de atividade vai baixar em todo o mundo é claro que as necessidades de energia tambem vão cair. O Brasil não precisa produzir mais petróleo nem álcool e alimentos para exportação. Quando a crise realmente se instalar o grande problema não é o de criar empregos quaisquer, mas de empregos produtivos. As necessidades de energia serão menores, quer petróleo, álcool ou eletricidade. Logo, trata-se de buscar soluções provisórias de baixo custo: pequenas necessidades, pequenas soluções.
O Brasil tem hidroelétricas de melhor qualidade que as recentemente licitadas no Rio Madeira. Belo Monte é uma delas. Outra possibilidade é encontrada na margem esquerda do Rio Amazonas e vertentes da Cordilheira dos Andes dos países vizinhos. O Brasil não mais se dar ao luxo de utilizar hidroelétricas de planície para suprimento de energia de ponta, como fez no passado, quando eram possíveis hidroelétricas de baixo custo incremental de equipamentos, inclusive usinas hidroelétricas inteiras mais baratas do que termoelétricas. No final do século todos os potenciais da região Sudeste e Sul já estavam em fase final de utilização, restando apenas as usinas de baixa queda do Rio Paraná, a jusante de Jupiá.

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