terça-feira, 17 de agosto de 2010

ASCENSÃO E QUEDA DO SISTEMA ELÉTRICO BRASILEIRO

O sucesso do sistema elétrico brasileiro, nas fases iniciais, é uma decorrência do relevo e da configuração geográfica dos rios formadores da bacia. O relevo acidentado das cabeceiras determina o custo das usinas isoladas e dos reservatórios de acumulação plurianual, enquanto a configuração amplifica o montante do estoque de energia potencial nas usinas de jusante. Suas usinas de cabeceira têm reservatórios profundos e estreitos em razão da altura (que é, aproximadamente, a relação entre volume e superfície). Esta foi a melhor fase de crescimento do estoque de energia potencial do sistema elétrico que chegou à cerca de 26 vezes, relativamente à energia natural afluente às usinas (ENA) com capacidade de autoregulação estendido para mais de dois anos. Durou cerca de 30 anos. A partir de então, o estoque passou a crescer menos proporcionalmente em relação a ENA, pela progressiva instalação de usinas de grande vazão e pequena altura, com reservatórios pouco expressivos, situados mais próximos da foz dos rios da bacia.
“Os requisitos principais que um empreendimento hidroelétrico precisa cumprir para contribuir eficazmente para a formação de estoque de energia são a baixa relação entre área inundada e volume de reservatório (~1/h) e a configuração geográfica propícia. Ora, estes requisitos só podem ser encontrados nos empreendimentos de cabeceira de bacias acidentadas, como os do Sudeste. Reservatórios de outras bacias, especialmente os da região Amazônica, alem de mais dispendiosos, não podem oferecer contribuição significativa para o aumento do “estoque de energia potencial” por não ter relação alguma com as usinas da bacia do Sudeste Sul, isto é: não são integradas fisicamente. Reservatórios de cabeceira são profundos e estreitos, enquanto os de planície são rasos e largos. Por outro lado, usinas de cabeceira são mais baratas do que usinas de planície, mesmo que produzam a mesma energia. Esta é a razão da ordem de preferência”.

Simulações já vinham comprovando a queda do estoque de energia potencial antes de 2000, quando o estoque baixou para menos de cinco vezes. As mesmas simulações mostram que uma queda acentuada da ENA, por dois anos seguidos, foram as causas do “apagão”, ocorrido em 2001. O racionamento e a instalação de térmicas de emergência foi a solução encontrada para o momento.

A relação estoque/ ENA poderia ser aumentada pela importação de energia de outras bacias, mas a interligação elétrica sozinha não transfere estoque diretamente de uma bacia para outra, se os rios não estiverem ligados fisicamente. Mesmo que existissem reservatórios de acumulação em outras bacias, é preciso que haja ligação física para que os sistemas individuais possam trocar energia potencial entre si. Não podendo contar com estoque de outras bacias, o recurso possível é diminuir a participação da ENA no suprimento da demanda, cujo déficit passa a ser coberto pelo ingresso de energia de outras fontes. Caso o suprimento seja feito por térmicas, parte da demanda é suprida por ENA e o restante por energia térmica. Ao fazer isso, estaremos substituindo “estoque de energia potencial hidroelétrica” por “estoque de energia potencial térmica”, muito mais seguro, independente de condições climáticas.
Mas pode transferir estoque de forma indireta por interligação apenas elétrica e aqui reside um de seus aspectos mais interessantes: como os rios da região Norte têm sazonabilidade muito mais acentuada que os da região Sudeste podem auxiliar na operação ao substituir ENA dos rios do Sudeste, durante os poucos meses de chuva abundante, permitindo o enchimento antecipado dos reservatórios do Sudeste, o que possibilita início da estação seca com os reservatórios cheios.

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