sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A REALIDADE DO CAMPO GRAVITACIONAL

Do ponto de vista do sistema energético, a região amazônica não é, tipicamente, uma bacia única integrada, mas várias bacias isoladas, cujos rios de planície não têm ligação física uns com os outros e nem com os rios do Sudeste o que é um obstáculo a integração. Geograficamente, rios de cada bacia têm pequena declividade e não suportam reservatórios de volume expressivo que não inundem, o que se traduz em impossibilidade técnica de reservatórios de regulação plurianual a semelhança do Sudeste. O relevo pouco acidentado na cabeceira de cada um destes rios é o responsável pela baixa eficiência do campo gravitacional — tanto no aspecto ambiental como econômico. O fator altura h, decorrente do relevo, não se reflete apenas no custo do equipamento, mas principalmente no custo do reservatório, raso e largo, com área inundada proporcionalmente maior, relativamente ao volume armazenado. Mas, o custo do reservatório não corresponde apenas ao valor imobiliário da terra inundada, o que seria algo suportável em uma região devastada como a do reservatório de Furnas, por exemplo. É o fato de a inundação ocorrer em área da floresta amazônica que torna o custo ambiental infinitamente maior e, portanto, o efeito altura mais evidente. Se não é aceitável um reservatório das dimensões do de Furnas em Belo Monte — e foi necessário reduzir sua área para diminutos 500 quilômetros quadrados, para que o licenciamento ambiental fosse aprovado — como justificar um reservatório inócuo, com área dez vezes superior, em qualquer reservatório de cabeceira dos rios Xingu, Tocantins, Tapajós ou Madeira?
O relevo já é um obstáculo natural, por isso construir reservatórios na Amazônia é “chover no molhado”, isto é, transformar a região mais inundada do planeta num gigantesco espelho d’água capaz de interferir com o clima. Seria a repetição na Amazônia da mesma experiência mal sucedida da construção de açudes que transformou o nordeste no semi-árido mais inundado do mundo.
Mas, se a região amazônica já é naturalmente molhada pelas enchentes, a construção de reservatórios mínimos não vai agravar os problemas de clima, já previamente determinado pelas enchentes naturais. Esta seria a condição a impor: os reservatórios não deveriam inundar mais do que as enchentes naturais.
Da mesma forma que a exploração dos recursos florestais da Amazônia pode ser conduzida de forma sustentável, por manejo limitado da quantidade, os recursos potenciais hidroelétricos tambem podem ter exploração sustentável, limitando intencionalmente a altura das barragens e, conseqüentemente, a superfície de alagamento dos reservatórios. É o baixo nível de aproveitamento de recursos, conhecido na literatura técnica por “Low Profile”
Uma solução de consenso inteligente sobre a utilização sustentável dos potenciais da Amazônia é o subaproveitamento, para ter em conta os prejuízos econômicos e ambientais dos grandes reservatórios. Ao reconsiderar a diminuição da altura nas represas das recém-licitadas usinas do Rio Madeira foi estabelecido um padrão para as demais usinas. A redução da altura não resulta em perda econômica propriamente dita — uma vez que o preço do Kwhora é bastante reduzido — mas em menor utilização dos recursos disponíveis em relação à máxima energia que seria obtida com a utilização de altura maior e, portanto, reservatórios mais extensos. Com a redução da capacidade instalada, o aumento no custo dos equipamentos e vertedores por unidade de energia produzida é mais que compensado pela redução no custo da barragem e reservatório — maior componente dos empreendimentos hidroelétricos — que praticamente deixam de existir. Significa apenas uma subutilização de todo o potencial disponível, o que tornou rentável o empreendimento. O emprego de usinas de fluxo de água (bulbo) adequadas para baixa altura de queda é o artifício que contempla custos ambientais e econômicos.

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