quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

APROVEITAMENTO SUSTENTÁVEL DOS POTENCIAIS DA AMAZÔNIA

(parte dois 11 páginas)
Há mais coisas no ar do que os aviões de carreira.
Aporelli.
È quase impossível passar ”em brancas nuvens” o “Belo Monte de problemas” que constitui o lançamento do megaevento prometido para o final do ano: A licitação da Usina de Belo Monte. Guardadas as devidas proporções, é comparável — em termos de marketing político ao lançamento do Pré-sal. De onde estiver, o saudoso Stanislau Ponte Preta (Sérgio Porto) estará assistindo a materialização — no besteirol do congresso — do seu famoso “FEBEAPÁ : Festival das Besteiras que Assola Este País. Não é para menos: um dos últimos e bons potenciais da região Amazônica comparável — como usina de fio d’água e em termos de potência instalada — à usina de Itaipu, mas de pequena capacidade de produção de energia.
Por traz “do Belo Monte” se esconde uma fauna exótica de marqueteiros políticos, lobistas, governadores, senadores, entre os quais nossa sumidade em matéria de energia, Lobão (o outro é claro!). De outro lado, os mais genuinamente interessados: índios, povos da floresta e ambientalistas, mineradoras, produtores de alumínio, técnicos e elevados interesses políticos que o evento propicia como véspera do ano eleitoral. O evento extrapola o mero interesse de técnicos, mineradoras, ambientalistas porque representa a oportunidade de mudança da estratégia seguida até aqui, nos rumos do planejamento energético e mineral. Técnicos e políticos depositam expectativas demasiado otimistas acerca das imensas riquezas que a realidade do campo gravitacional da Amazônia não mostra:
O que mais caracteriza os potenciais da região Amazônica é que em sua maioria são potenciais de fio d’água, de baixa altura local e situada em planície de baixa altitude, tecnicamente incapazes de constituir estoques de energia.
Comparativamente, o estoque de energia depende ao mesmo tempo da altura local e da altitude. A altura local limita o volume do reservatório em região de baixa declividade e a altitude limita o estoque que esse reservatório pode constituir.
Nada impede, entretanto, que a energia de recursos de fio d’água seja enviada para suprir demanda no período seco do Sudeste, cujos reservatórios podem ser mantidos cheios com a água economizada. Mas, esta é uma possibilidade ilusória, conquanto inteligente. Estoque de energia é uma variável sistêmica que não está localizada em um ponto determinado do sistema. É uma variável que pertence ao sistema como um todo, cujos componentes se transformam em energia elétrica nas diversas alturas das usinas de jusante do mesmo caminho da corrente do rio assim que o volume dos reservatórios de cabeceira libera água. Ora, não se pode reter água nestes reservatórios sem comprometer o funcionamento da usinas de jusante, de cuja vazão sua capacidade é dependente.
O que foi feito até agora nas primeiras usinas (Tucuruí, Madeira, etc.) é uma tentativa de extensão à região amazônica da mesma estratégia bem sucedida no Sistema Elétrico do Sudeste. Mas, o sonho de um sistema único interligado pode não ser atingível. Existem limitações de natureza física e econômica para impedir que os recursos potenciais da Amazônia sejam utilizados em sua plenitude e assim integrados, alem daquelas de cunho ambiental que por si só seriam suficientes:
São condições geográficas que determinam o fraco desempenho dos grandes potenciais da região amazônica, tanto do ponto de vista ambiental como econômico. Pequenos desníveis criados para geração de energia elétrica implicam em grandes reservatórios, dispendiosos e agressivos ao meio ambiente. Do ponto de vista econômico, a transformação se opera em regime de baixas velocidades, o que implica maior custo dos equipamentos, turbina e gerador e maiores custos de barragens e reservatórios.


A REALIDADE DO CAMPO GRAVITACIONAL
Do ponto de vista do sistema energético, a região amazônica não é, tipicamente, uma bacia única integrada, mas várias bacias isoladas, cujos rios de planície não têm ligação física uns com os outros e nem com os rios do Sudeste o que é um obstáculo a integração. Geograficamente, rios de cada bacia têm pequena declividade e não suportam reservatórios de volume expressivo que não inundem, o que se traduz em impossibilidade técnica de reservatórios de regulação plurianual a semelhança do Sudeste. O relevo pouco acidentado na cabeceira de cada um destes rios é o responsável pela baixa eficiência do campo gravitacional — tanto no aspecto ambiental como econômico. O fator altura h, decorrente do relevo, não se reflete apenas no custo do equipamento, mas principalmente no custo do reservatório, raso e largo, com área inundada proporcionalmente maior, relativamente ao volume armazenado. Mas, o custo do reservatório não corresponde apenas ao valor imobiliário da terra inundada, o que seria algo suportável em uma região devastada como a do reservatório de Furnas, por exemplo. É o fato de a inundação ocorrer em área da floresta amazônica que torna o custo ambiental infinitamente maior e, portanto, o efeito altura mais evidente. Se não é aceitável um reservatório das dimensões do de Furnas em Belo Monte — e foi necessário reduzir sua área para diminutos 500 quilômetros quadrados, para que o licenciamento ambiental fosse aprovado — como justificar um reservatório inócuo, com área dez vezes superior, em qualquer reservatório de cabeceira dos rios Xingu, Tocantins, Tapajós ou Madeira?
O relevo já é um obstáculo natural, por isso construir reservatórios na Amazônia é “chover no molhado”, isto é, transformar a região mais inundada do planeta num gigantesco espelho d’água capaz de interferir com o clima. Seria a repetição na Amazônia da mesma experiência mal sucedida da construção de açudes que transformou o nordeste no semi-árido mais inundado do mundo.
Mas, se a região amazônica já é naturalmente molhada pelas enchentes, a construção de reservatórios mínimos não vai agravar os problemas de clima, já previamente determinado pelas enchentes naturais. Esta seria a condição a impor: os reservatórios não deveriam inundar mais do que as enchentes naturais.
Da mesma forma que a exploração dos recursos florestais da Amazônia pode ser conduzida de forma sustentável, por manejo limitado da quantidade, os recursos potenciais hidroelétricos tambem podem ter exploração sustentável, limitando intencionalmente a altura das barragens e, conseqüentemente, a superfície de alagamento dos reservatórios. É o baixo nível de aproveitamento de recursos, conhecido na literatura técnica por “Low Profile”
Uma solução de consenso inteligente sobre a utilização sustentável dos potenciais da Amazônia é o subaproveitamento, para ter em conta os prejuízos econômicos e ambientais dos grandes reservatórios. Ao reconsiderar a diminuição da altura nas represas das recém-licitadas usinas do Rio Madeira foi estabelecido um padrão para as demais usinas. A redução da altura não resulta em perda econômica propriamente dita — uma vez que o preço do Kwhora é bastante reduzido — mas em menor utilização dos recursos disponíveis em relação à máxima energia que seria obtida com a utilização de altura maior e, portanto, reservatórios mais extensos. Com a redução da capacidade instalada, o aumento no custo dos equipamentos e vertedores por unidade de energia produzida é mais que compensado pela redução no custo da barragem e reservatório — maior componente dos empreendimentos hidroelétricos — que praticamente deixam de existir. Significa apenas uma subutilização de todo o potencial disponível, o que tornou rentável o empreendimento. O emprego de usinas de fluxo de água (bulbo) adequadas para baixa altura de queda é o artifício que contempla custos ambientais e econômicos.

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