terça-feira, 17 de agosto de 2010

UMA APOSTA SOBRE O FUTURO

Nas fases iniciais de qualquer sistema elétrico a abundância de potenciais inexplorados oferece enorme oportunidade de escolha. Obviamente, são utilizados em primeiro lugar os de mais baixo custo, situados nas cabeceiras dos rios que compõem a bacia estudada. Estes primeiros potenciais têm custos tão surpreendentemente baixos que chegam a custar menos que o custo total de termoelétricas. O custo da hidroeletricidade foi tão atrativo que levou ao esgotamento dos potenciais disponíveis, nos países industrializados, que acabaram tendo de optar por usinas termoelétricas. Um bom exemplo é a usina Henry Borden na Serra do Mar cujo custo da época, 117 US$ /kW instalado, foi muito inferior ao custo das termoelétricas do fim do século (500 US$ /kW). Esta foi a principal razão da persistência, por longo período, da forte motorização das principais usinas do Sistema Elétrico Brasileiro até a década de 1980, uma vez que o acréscimo de mais uma unidade significava um custo incremental de segunda ordem em relação a uma parcela correspondente a apenas 30% do custo total, depois de cumprido os outros 70 %, relativos a barragem e vertedores. Após o choque de 1973, a disparidade de custos se tornou ainda maior diante do aumento do preço do petróleo, o que veio a acentuar ainda mais a preferência por hidroelétricas no Brasil. No decurso de poucos anos todos os potenciais de baixo custo foram utilizados, sobrando apenas os potenciais de pequena altura e grande vazão, característica das regiões de planície, mais perto da foz dos principais rios.
Mas mesmo na suposição de que o custo incremental de usinas hidroelétricas chegue a ponto de custar tanto quanto termoelétricas inteiras, aquelas terão preferência no suprimento de demanda por não terem custos operacionais (gasto de combustível). Exemplo: custo total de termoelétrica 500 US$ /kW equivalente ao custo incremental de 25% do custo total de 2000US$ /kW de usina hidroelétrica. Mas não é o suprimento de demanda que está em jogo no momento, cuja capacidade de suprimento o sistema tem de sobra, em virtude da forte motorização do passado, mas, o suprimento de energia propriamente dita por usinas térmicas em lugar de hidroelétricas, em virtude da baixa que está ocorrendo nos preços dos combustíveis, petróleo e álcool. Isso poderá ocorrer se o custo de térmicas for inferior ao de hidroelétricas em US$ /KWHORA. Corremos o risco calculado de gastar mais em combustível no futuro deixando de antecipar gastos de capital em hidroelétricas no presente. Se períodos de escassez de água de fato ocorrerem os gastos de combustível serão maiores. Ao contrário, se períodos chuvosos ocorrerem, as termoelétricas podem permanecer ociosas com baixos custos de capital imobilizado.
Se o custo das hidroelétricas disponíveis se situarem na faixa de 3000 US$ /kW, como parece ser o caso das usinas do Rio Madeira, é bem provável que se encontrem usinas termoelétricas ao preço 750 US$ /kW instalado, capazes de suprir energia ao custo inferior ao custo do KWHORA das usinas hidroelétricas. Basta que o preço do combustível continue em queda e que os juros continuem subindo, uma circunstância do período da crise atual.
Outro fator privilegiando térmicas está relacionado com o fato de poderem ser escalonadas em frações menores, ao contrário de hidroelétricas, cuja incidência de juros é muito maior durante a construção, em prazo muito maior. Mas o que mais privilegia térmica é o fato de que maiores despesas ocorrerão a prazo, permitindo adiar uma solução custosa de hidroelétricas, enquanto juros e preços de combustível tenham uma definição mais clara depois da atual crise. Ocorre tambem que o país vai precisar de capital para socorrer setores mais pobres da população quando a crise se abater definitivamente. Existem setores mais intensivos em mão de obra aos quais é mais razoável destinar recursos de incentivo.
Uma aplicação útil de termoelétricas pode ser encontradas nas atuais usinas de cogeração. O fato de a maioria das usinas de cogeração se situarem nos estabelecimentos produtores de açúcar e álcool permite uma feliz complementação de termoelétricas a gás com termoelétricas a vapor existentes. Em lugar da queima direta do bagaço em termoelétricas a vapor existentes, termoelétrica a álcool disponibilizaria calor para funcionamento da térmica a vapor, dispensando ou complementando a queima direta do bagaço na forma de biomassa. Este arranjo, muito difundida na Europa, é conhecido como “termoelétrica á gás e vapor combinada”, o qual permite aumentar, substancialmente, o rendimento do processo térmico de transformação.
Uma complementação bastante proveitosa consiste na localização das novas termoelétricas a álcool (ou gás) junto às antigas usinas de cogeração das usinas de açúcar e álcool, territorialmente bastante distribuídas e já interligadas ao Sistema Elétrico Brasileiro. Esta localização resulta numa feliz combinação de termoelétrica a gás e termoelétrica a vapor, de modo a constituir unidades de usinas termelétricas combinadas a álcool e vapor, aproveitando térmicas a vapor existentes O Calor proveniente das saída de gases quentes pode tambem ser aproveitado em “calor de processo”, em substituição a queima pura e simples do bagaço de cana.

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