terça-feira, 17 de agosto de 2010

PREVISÕES

• Termoelétricas a gás ou combustível líquido serão as substitutas naturais das atuais hidroelétricas em fase de extinção. Serão velozes como turbinas de avião, para aproveitar a transformação em regime de altas rotações. Para melhorar o processo termodinâmico deverão operar em conjunto com térmicas a vapor, de modo a constituir o conjunto “termoelétricas combinadas a gás e vapor” (cogeração), para recuperar investimentos em antigas térmicas a carvão, a óleo e biomassa de bagaço de cana. A melhor localização é junto às usinas de cana de açúcar e junto às termoelétricas a combustível fóssil (Piratininga, Candiota, etc.).
• Combustível líquido e gasoso derivado da cana e florestas artificiais constitui uma das alternativas mais promissoras para Pesquisa e desenvolvimento nos próximos anos.

A cana é um planta energética por excelência. A produtividade anual média no Estado de São Paulo é de 85 toneladas de cana por hectare, enquanto que a produtividade do milho é de 10 toneladas e a da soja é de 4 toneladas por hectare. Tudo na cana é transformável em combustível, enquanto a soja, que é uma oleaginosa, pequena quantidade de energia pode fornecer. É por essa razão que não vale a pena extrair combustível de grãos de soja (ou de grãos de milho).
“Um bom substituto para o petróleo deve ser encontrado naquilo que constitui a sua origem que são as florestas e plantas energéticas. Se o petróleo constitui um depósito ancestral, as florestas são depósitos atuais”.

• As vantagens da utilização de termoelétricas podem não ser significativas do ponto de vista econômico tornando indiferente a escolha, porque ainda existem hidroelétricas de custo relativamente baixo na periferia da planície Amazônica. Não há, entretanto, como prever os desdobramentos da crise atual, relativamente a escassez de crédito e preço de combustíveis. Uma coisa é certa: não esta muito distante o dia em que hidroelétrica acabarão se tornando mais caras e difíceis de serem aceitas pela comunidade, diante das agressões ao meio ambiente, provocado pelos reservatórios inúteis.
• O mundo não está ameaçado por consumir petróleo. Nem o petróleo é um produto tão limitado como enfatizam. Muito mais limitados são os recursos potenciais hidroelétricos, cujos últimos aproveitáveis se encontram nos países pobres, América latina, África e Ásia, assim mesmo em quantidade restrita a 700 GW. A maioria deles se encontram em regiões de planície, junto a foz dos rios (Amazônia), por isso mesmo vistos como agressivos ao meio ambiente com justa razão. Alem do mais estão se tornando tambem antieconômicos (com a utilização dos melhores) em relação a termoelétricas a gás e álcool.
• Não há nenhuma evidência objetiva de que o preço do petróleo volte a subir, nem que as restrições de crédito diminuam. Bastou ocorrer uma pequena mudança de hábitos para que o petróleo baixasse.
• A crise atual não decorre de fatores que já vinham acontecendo naturalmente, nos países industrializados, em poucos anos de recessão. A mudança de hábito para veículos mais econômicos aconteceu naturalmente por razões estruturais. Não são medidas conjunturais de socorro que vão salvar as montadoras. A razão é simples: o ingresso na economia de serviços e alta tecnologia vêm diminuindo a importância do transporte dos países industrializados, uma tendência verificada no fim do século que prossegue até os dias de hoje (ver Tabela 1). Até no automóvel, que parecia um grande consumidor, o consumo de combustíveis não cresce por falta de usuários. Milhões de carros são fabricados todos os anos para ficarem parados no trânsito, nos estacionamentos e garagens, como objeto ornamental. Com mais de um veículo por habitante (2,5 nos Estados Unidos), é impossível ao usuário ocupar mais de um ao mesmo tempo (só se tivesse o dom da ubiqüidade), o consumo depende das viagens. Alem da necessidade de locomoção de pessoas ser naturalmente reduzida numa economia de serviços, acresce o fato de estar acontecendo mudanças de hábito para carros mais econômicos. O transporte pesado tambem perde importância numa economia de bens desmaterializados. Ademais, a distribuição de mercadorias pode contar com a eficiente estrutura herdada do industrialismo. O preço do barril cai em decorrência das mudanças estruturais acontecendo nos países industrializados. A queda do consumo de petróleo nos países em desenvolvimento não é significativa. O cartel da OPEP não tem a força que pensávamos: se ocorrer queda na produção, outros países em dificuldades aumentarão sua oferta (Rússia).

Os países em desenvolvimento e os industrializados estão descasados no que concerne ao seu desenvolvimento industrial. Nestes, o mundo já presenciou o desacoplamento do consumo de energia e atividade econômica: O PNB cresce e o consumo per cápita de energia diminui, como mostra a tabela 1. Países industrializados e países em desenvolvimento estão descompassados no que concerne ao desenvolvimento industrial. Nos países industrializados, a maior parte das inovações está ocorrendo nas áreas de eletrônica, tecnologia da informação, comunicações e outros campos de alta tecnologia. A demanda mudou de produtos intensivos em materiais para aqueles caracterizados por elevada relação entre valor agregado e conteúdo de material. A estagnação na demanda de materiais básicos tem criado um clima desfavorável nas indústrias a eles relacionadas, apesar dos aumentos do preço da energia na última década terem tornado obsoletos muitos investimentos nestas indústrias. Assim, em indústrias de importância crucial para estabelecimento de uma infra-estrutura o ritmo de inovação no Norte não é suficientemente rápido para satisfazer as necessidades do Sul. O rápido crescimento potencial da demanda de materiais básicos no Sul sugere tambem que alguns países podem oferecer melhores condições para inovações do que os países do Norte (José Goldemberg).
Como conclusão, o petróleo tem uma sobrevida de pelo menos uns cem anos e não há nenhuma razão para que deixe de ser consumido, como fonte de aquecimento nos países industrializados, e de acionamento de veículos, nos países em desenvolvimento.

Crescimento per cápita do consumo de energia e PIB em %
Período 1973/85
Países OCED EE.UU. JAPÃO
Energia per cápita -6 -12 -6
PIB per cápita 21 17 46








Tabela 1 - Crescimento do consumo de energia e PIB per cápita nos países industrializados no período 197 a 1985.









A baixa atual no preço do petróleo e combustíveis alternativos é um fenômeno persistente decorrente de uma profunda mudança estrutural que vem ocorrendo nos países industrializados desde 1975, sobretudo nos Estados Unidos Europa e Japão. A mudança de hábito no sentido de uma redução do consumo dos automóveis vem ocorrendo espontaneamente ao longo dos últimos trinta anos. O consumo de automóveis é decrescente por ter atingido o nível de saturação física, com mais de um automóvel por habitante e o consumo de combustíveis no transporte pesado perde importância, numa economia baseada em serviços.
A atual crise não decorre de mudanças estruturais, como falta de energia, mas é uma crise de abundância que reflete uma mudança de paradigma nos modos de viver da nova sociedade do mundo industrializado. Países industrializados não oferecem mais suporte aos países em desenvolvimento os quais têm de procurar seu desenvolvimento por meios próprios. Países industrializados perderam o contato com a produção de bens industriais aos quais tentam retornar sem sucesso. O único caminho que lhes resta é o desenvolvimento de novas tecnologias. As tentativas de incentivar o emprego em áreas tradicionais fracassam porque não são mais competitivos. No setor automobilístico perdem para os concorrentes do mundo em desenvolvimento, que não param de fabricar automóveis mais econômicos. Não faz sentido estimular uma agricultura, com apenas 2% da população no campo. Não faz sentido estimular montadoras para produzir veículos para ficarem parados e nem faz mais sentido estimular a construção de casas para famílias decrescentes no tamanho. A única parcela do consumo de energia que permaneceu constante é a relativa ao aquecimento de residências. Se em pleno apogeu do inverno no hemisfério norte o preço do barril não consegue decolar, é sinal claro de que só os países em desenvolvimento não vão sustentar a demanda por petróleo. Até os conflitos que motivaram a indústria bélica, estão em vias de cessar.
Outras formas de energia alternativa não se prestam à maior necessidade dos países industrializados: o aquecimento de residências.
O petróleo é um produto abundante em relação a outras formas de energia e seu preço continuará em queda pela concorrência de combustível alternativo, mas, sobretudo porque seus maiores consumidores estão diminuindo o consumo espontaneamente, por ingressarem na nova economia dos serviços e alta tecnologia. Como representam 70% do consumo de energia no mundo, qualquer diminuição do consumo se torna bastante significativa.
Com a população estabilizada e o consumo per cápita de energia em declínio, os países industrializados não são mais os responsáveis pelo aumento da demanda de energia como mostra a tabela 1.
Nos países em desenvolvimento até o consumo de energia não vai ser o mesmo, em razão da baixa atividade econômica nos próximos anos de recessão econômica. Portanto, um pequeno investimento em termoelétricas é suficiente enquanto a crise durar. O importante é não penalizar os investimentos já feitos, para os quais a cana já está plantada.
Enquanto isso, no Brasil o governo persiste na intenção de alocar vultosos investimentos em pesquisa e exploração de petróleo e nos faraônicos “programas decenais” de hidroelétricas duvidosas, quando poderia salvar investimentos no setor sucroalcooleiro que já está se tornando pouco competitivo.
Petróleo e hidroeletricidade são grandezas distintas em muitos aspectos:
 Ambos são formas de energia potencial que dependem da solicitação dos consumidores para ser utilizada.
 Ambos dependem de capital para estarem prontas para utilização. Acontece que o petróleo, como estoque de energia potencial, pode continuar estocado, basta não explorar, enquanto a energia potencial das quedas d’água se esvai se não for utilizada.
 Uma, o petróleo, é estoque (integral), a outra, hidroeletricidade, é energia passageira, circunscrita ao tempo atual da ação direta dos raios solares (diferencial).
 O petróleo é um estoque de energia acumulada pela ação lenta e contínua da fotossíntese que perdurou por milhões de anos, cujo montante é desconhecido, enquanto a energia potencial das quedas d’água é uma quota atual de energia, renovada continuamente, mas cujo montante, bem determinado, se esgotou rapidamente com a utilização dos saltos potenciais disponíveis.
 A energia potencial das quedas d’água não comporta acréscimos é não é ainda acumulável, enquanto o petróleo está sempre disponível, o que torna a energia potencial das quedas um recurso muito mais limitado que o combustível.
 O modo mais barato de produzir trabalho mecânico é através da utilização dos potenciais hidroelétricos devido aos elevados rendimentos da transformação quando comparados ao rendimento de termoelétricas. Por outro lado, o modo mais barato de produzir aquecimento é através da queima direta de combustível (segundo princípio).
 Apesar do uso intenso o estoque de petróleo continua uma incógnita. Apesar da baixa eficiência, a fotossíntese acumulou incalculável estoque de energia sob forma de depósitos fósseis, enquanto que nos mesmos milhões de anos, a energia potencial das quedas d’água não acumulou nada, até que a primeira roda d’água fosse utilizada.
 O combustível é tambem uma forma de energia que pode ser “renovada” pela ação do homem, limitada apenas à quantidade de terra disponível. Ao cultivar plantas energéticas como cana e florestas artificiais o homem exerce um efeito benéfico sobre o meio ambiente, repondo, de certa forma, aquilo que foi subtraído por sua ação predatória do passado. Isto mostra que o combustível é uma fonte infinitamente mais abundante que a energia potencial disponível e a maior evidência desse fato é o preço atual dos combustíveis, tanto petróleo como combustível alternativo.
Em condições normais a opção por hidroelétricas seria preferencial em virtude de grandes reservas de potenciais inexplorados na região amazônica, especialmente no Rio Xingu, onde se encontra um dos melhores recursos potenciais do ponto de vista econômico (Belo Monte). Mas considerando que nos próximos anos haverá abundância de combustíveis: petróleo, álcool, carvão vegetal e mineral e até energia, cujo preço em geral declinará com a baixa atividade econômica, a opção por termoelétricas a gás ou combustível líquido representa a mais oportuna alternativa em termos econômicos e ambientais, pelas seguintes razões:
 Permite adiar investimentos de capital enquanto durar a crise atual.
 Evita elevados investimentos em “linhões” e reservatórios agressivos.
 Termoelétricas a álcool vão permitir a utilização da cana já plantada.
 Pesquisa e desenvolvimento em novas tecnologias permitirão o aproveitamento total da cana e de novos combustíveis líquidos e gasosos de biomassa de florestas cultivadas, para acionamento de termoelétricas de maior eficiência, especialmente quando associadas a térmicas a vapor preexistentes na forma de termoelétricas combinadas (cogeração).
 Um programa mais abrangente de instalação de termoelétricas a gás ou álcool poderão dar solução ao complicado problema de aproveitamento do bagaço de cana das atuais e futuras usinas de cogeração. O mesmo programa poderia contemplar tambem as antigas térmicas a carvão mineral de modo a reduzir o impacto ambiental proveniente do uso inadequado de carvão de baixa qualidade (Piratininga, Candiota).
 Termoelétricas a gás ou álcool são fontes preciosas de “calor de processo” para inúmeras empresas de uso institucional coletivo como hotéis, hospitais, bibliotecas, restaurantes, centros de abastecimento, frigoríficos, supermercados, madeireiras, etc, etc.
 Hidroelétricas e termoelétrica não são opções autoexclusivas, mas complementares. O Brasil ainda tem bons potenciais hidroelétricos inexplorados na bacia Amazônica (Xingu e tapajós) capazes de produzir energia muito mais barata do que as licitadas no Rio Madeira, mas são muito controvertidas. Belo Monte, por exemplo, situada no encontro do cristalino com a planície Amazônica, tem boas condições geográficas que permitem um aproveitamento de queda apreciável, utilizando um reservatório pequeno em relação à grande capacidade de produzir energia. Não necessariamente precisa ser otimizado, do ponto de vista econômico. Uma boa solução de compromisso consiste no subaproveitamento (low profile), ou seja, utilizando menor altura de queda em benefício de melhores condições ambientais e sociais, nos moldes do critério que foi utilizado nas licitações do Rio Madeira. A proximidade aproveita experiência obtida com a usina de Tucuruí, no Tocantins e diminui a necessidade de linhas de transmissão. Devemos ter em conta, que a altura menor reduz apenas os custos de barragem e custos ambientais, uma vez que os custos unitários de equipamentos aumentam e, com isso, o custo do kWhora produzido. O custo de vertedores permanece constante. Para reduzir o impacto do custo de capital em equipamento que se tornarão mais elevados, a instalação dos equipamentos pode ser escalonada no tempo e em quantidade menor, de modo a ter grandes fatores de capacidade. A demanda fica a cargo das demais usinas.
O custo operacional de térmicas está em queda, devido a abundância de combustíveis, enquanto o custo de hidroelétricas está subindo, devido a escassez de capital. As condições de crédito favorecem as termoelétricas, cujo combustível precisa de maior proteção por ser mais intensivo em mão de obra. A complementação por termoelétricas permite melhor aproveitamento do atual sistema elétrico no sentido de oferecer garantia de suprimento com baixo investimento.
O Brasil, junto com Estados Unidos, Rússia e Canadá foram os países que mais se beneficiaram da revolução da eletricidade. O custo da hidroeletricidade foi tão atrativo que levou ao esgotamento dos potenciais disponíveis, nos países industrializados, os quais acabaram tendo de optar por usinas termoelétricas mais dispendiosas. No Brasil ainda existem potenciais inexplorados, mas de custo ambiental e social elevado.
O custo incremental de adicionar novas unidades era tão surpreendentemente baixo que justificava supermotorização das hidroelétricas. Algumas chegaram a custar menos que o custo total de termoelétricas. Esta, a razão acertada da supermotorização.

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